terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Tenho muito prazer em conhecê-lo (com Noel)

Foi assim:

Eu, em casa, sem muito o que fazer e toca o telefone. Era um conhecido qualquer, de qualquer bar de qualquer dia me convidando pra uma festa.

De não ter nada pra fazer em não ter nada pra fazer, acabei aceitando o convite e fui, terno alinhado, sapato engraxado, um chapéu que me caía na cabeça, do jeito que eu bem gosto.

Era festa fina, com champignon e tudo.

Um copo de cerveja aqui, um cigarro aceso ali, um papinho com uma menina aqui e quando um amigo me passava os resultados do futebol “Bangu 4, Fluminense 1. América 3, Flamengo...”, não deu tempo, vi uma amiga antiga, entrando com pai, mãe e marido, esse um ex-amigo e, mais que isso, um rival.

Ela me viu primeiro e se aquela cena tivesse a legenda dos filmes de Carlitos pairaria escrito sobre ar em letras garrafais “CONSTRANGIMENTO” e a platéia gritaria: “OHH!”.

Meu ex-amigo sabia do nosso trelelê e quando me viu pareceu exultante, alegre, porque ele queria, e ahh! como queria, ver o circo pegar fogo.

Tentei que me viesse na cabeça uma idéia genial, qualquer uma que me tirasse daquela situação constrangedora, mas não me vinha nada, só pensava na letra dum samba.

Eu sorrindo sem vontade aqui, ela rindo falso acolá, e eu fiquei naquela de que a sociedade me impunha uma coisa, eu não queria dar, mas enfim, ai de mim se não ficasse calado.

E, enquanto isso, o samba tocava na minha cabeça.

Percebi uma certa discussão entre meus ex-amigos que tinha, claro, o ciúme como ponto de partida. Eu devia me dirigir até lá e falar que se eu pudesse não tinha ido à festa, que a odiava- e como odiava!- por que, ai de mim!, eu não sou nenhum desmancha prazeres.

Mas, pra que mentir?

E, de repente, percebo a moça ao meu lado, e nada de idéia genial. A moça, o pai da moça, a mãe da moça, todo mundo chegando perto e eu sem poder correr. E nada de idéia genial. Fui ficando branco, rosa, amarelo, verde, azul, laranja e de novo branco, amarelo e me sentindo furta cor, quando ela se vira pra mim sorrindo, e diz:

- Tenho muito prazer em conhecê-lo!

Devo ter dito um igualmente, ou qualquer coisa do tipo, e decidi ir embora.

Mas,não sem antes parar na porta da festa, jogar meu copo no chão e gritar que:

- MAIS PRAZER TERIA EM NÃO TE CONHECER!

... ta ok, eu não joguei o copo e eu não gritei, mas é como se fosse. Foi assim.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Eu, que não sou eu.

Já se olhou no espelho?

Já se olhou hoje?

Já percebeu sua imagem no fundo de uma janela querendo dizer alguma coisa que você não sabe o que é?

Já viu lábios mordidos pelos próprios dentes, a boca branca, e você olhando pra você sem ter certeza se é você mesmo quem te olha?

Já olhou pro espelho e sentiu saudades do espelho de outrora?

Já queimou a cabeça querendo achar um verso que seja, e pensou que, tudo bem, amanhã viriam três?

Já roeu as unhas frente a uma folha em branco sem saber se isso era aquilo mesmo ou outra coisa?

Já pensou que ficou maluco, doido mesmo, mentecapto?

Já vislumbrou nada e, mesmo assim, se deparou com a crueldade de uma felicidade sem propósito?

Já quis chorar por ser você mesmo, entre seis bilhões de possibilidades?

Já vomitou as tripas e quis continuar vomitando só pra não ter que pensar por uns segundos?

Já se sentou pra escrever e não teve certeza do quê e do porque estava escrevendo?

Já pensou que não era isso que você tinha pensado?

Já descobriu que tudo não passa de mundo, e que mundo é a porta ao lado?

Porque, se você não fez, não pensou alguma dessas coisas.

Se você não é só, e tão só, tudo isso.

Então, você não é aquela imagem refletida no espelho:

Que já não sou eu, mas posso ser...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Filosofia Barata

- Filosofia barata essa sua, ela me disse.

E eu não acho que isso é coisa que se diga! Bota o nome da mãe, xinga até a décima primeira geração, mas não sai chamando qualquer coisa que eu pensar de filosofia barata. Falar que fiquei nervoso é bobagem, na verdade fiquei tão, mas tão puto, que esqueci até o que tinha dito.

Fiquei parado olhando pra ela, assim como quem não quer nada. Puxei um cigarro do maço e acendi, traguei, baforei, e soltei um risinho cheio da ironia mais fina. Não pensei em nada inteligente na hora, não achei nada demais pra responder, mas ri, e aquele riso, modéstia à parte, foi genial.

Só que ela riu, e eu continuei rindo porque ela riu. Mas, pensem bem, a moça chama minha filosofia de barata, me deixa possesso, e aí, quando eu acho uma tirada boa, uma tirada própria de gênios, ela usa da mesma comigo! Vaca.

Mas tudo tem um fundo de verdade, e como aquele risinho genial tivesse realmente um quê de gênio, é provável que minha filosofia tivesse seu momento barata. Corri o céu com os olhos, pensando em alguma coisa que me defendesse, mas não me ocorreu nada.

Pensei em falar de Deus, sobre como o protestantismo se perdeu e, por se perder, cresceu. Pensei em falar sobre essa nova literatura pop que pega coisas que já existiam há séculos e transformam, ‘Jesus deixou herdeiros!’, ‘um vampiro meio bicha, que brilha no sol, e é completamente bom’. E me controlei a tempo ao abrir a boca, antes que soltasse um ‘Está quente hoje, não é?’

E como sempre pensei, pensei, e não falei nada.

Mas ela também estava pensando e não estava falando, e eu matutava que ela devia estar pensando a maneira mais educada de me pedir desculpas. Devia estar confessando a si mesma que minha filosofia era boa, que barato foi o jeito dela de pensar no que eu pensei. E ela diria ‘desculpa, meu filósofo’, eu pagaria um café, e iríamos pra cama.

E aí, depois da certeza do arrependimento dela, pensei que ela estava com vergonha de se desculpar e, na minha magnificência, abri um sorriso daqueles superiores, autorizando a menina às desculpas.

E foi abrir o sorriso e ela escancarou a gargalhada! Ria de não se agüentar em pé da minha cara, do meu conceito, da merda toda! Aquilo já era demais, humilhação demais. Segurei-a pelos braços, e com os olhos vermelhos gritei:

-Filosofia barata é a puta que te pariu!.

Ela me olhou admirada e teve que se render à força do meu argumento.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Chora, pequena...

Chora.

Deita em meu ombro, pequena, e chora!

a

Conta suas lágrimas, e repara

Que cada uma é como um sonho que se foi,

Que cada pedacinho de água

É como correr atrás do infinito...

Gritando sem eco, sem sombra, sem resposta!

a

Chora.

Deita sua cabeça, pequena, e chora!

a

Desiste por um minuto da vida

Deixa cair sua cabeça na minha

E repara o brilho pungente da água!

No fim de tudo, no acerto de contas,

Há um rio lindo com todas as lágrimas da vida...

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Chora.

Me dê sua cabeça, pequena, e chora!


Declara sua dor ao mundo!

Culpe culpados e cúmplices,

Duvide da existência de inocentes!

Olha o espelho e perceba-se incapaz de amar!

Ame, pequena, com todas as forças, ame!

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Chora.

Esconde o rosto em meus braços e chora!

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Agora deita, e eu te prometo que tudo vai passar,

Tenta dormir, tenta não sonhar demais!

Agora não é hora de sonhar!

Calma, meu bem, tente pensar em coisas boas:

O amor é isso mesmo...

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Não chora, não chora, pequena!