quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Eu, que não sou eu.

Já se olhou no espelho?

Já se olhou hoje?

Já percebeu sua imagem no fundo de uma janela querendo dizer alguma coisa que você não sabe o que é?

Já viu lábios mordidos pelos próprios dentes, a boca branca, e você olhando pra você sem ter certeza se é você mesmo quem te olha?

Já olhou pro espelho e sentiu saudades do espelho de outrora?

Já queimou a cabeça querendo achar um verso que seja, e pensou que, tudo bem, amanhã viriam três?

Já roeu as unhas frente a uma folha em branco sem saber se isso era aquilo mesmo ou outra coisa?

Já pensou que ficou maluco, doido mesmo, mentecapto?

Já vislumbrou nada e, mesmo assim, se deparou com a crueldade de uma felicidade sem propósito?

Já quis chorar por ser você mesmo, entre seis bilhões de possibilidades?

Já vomitou as tripas e quis continuar vomitando só pra não ter que pensar por uns segundos?

Já se sentou pra escrever e não teve certeza do quê e do porque estava escrevendo?

Já pensou que não era isso que você tinha pensado?

Já descobriu que tudo não passa de mundo, e que mundo é a porta ao lado?

Porque, se você não fez, não pensou alguma dessas coisas.

Se você não é só, e tão só, tudo isso.

Então, você não é aquela imagem refletida no espelho:

Que já não sou eu, mas posso ser...