domingo, 26 de julho de 2009

De qualquer modo estamos fugindo
Sumir é o verdadeiro motivo pra sumir.
Aah! Se ao menos existíssemos,
Se um para o outro pelo menos...
Somos o que somos para nós
Como se fôssemos invenções doentias,
Sádicas, impudicas e frias
de sensações sem o menor sentido,
mas isso se existíssemos...
só que como nem ao menos isso...
Ahh!Nem isso.
Então fugimos, simplesmente fugimos
Fomos, somos, e sempre seremos fugitivos
Não somos nada um pro outro,
Não fomos nada, e nem seremos...
Somos somente pensamento,
Nuvens de cigarro e pensamento
Somos as almas separadas de cada um,
Poderíamos ser mais se fôssemos juntos,
Mas somos apenas uma alma cada um,
Poderíamos ser dois se fôssemos juntos,
Somos apenas duas almas estranguladas divididas pela metade de cada um,
Poderíamos ser um, se fôssemos juntos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Meus sonhos com Ana.

Que vontade maluca de você,
De sonhar nós dois mais uma noite
De ir a pé, correndo, voando
Pra dar um jeito de te ver.
É loucura, eu sei que é,
Mas se isso é louco, é o que quero ser.
Eu quero te ser. Eu quero só te ser.
E que, de alguma maneira, sejamos.
Quero correr pro seu lado,
Mesmo que seja em sonho,
Quero sem nem saber se quero tanto.
Mas quero.
Te quero,
Por isso uma vontade maluca de você essa noite
De dormir depois de ver o seu sorriso,
Ou dormir te vendo sorrir.
Ou só sorrir
Ou só dormir, se meu sonho for você.

sábado, 18 de julho de 2009

eis a questão.

Estática e misteriosa vida
ensaio para outras vidas
teatro do sórdido
representação do respeito.
somos todos canalhas de nós mesmos,
não somos nada, mas nos damos por tudo.
Somos os outros dos outros
e mesmo assim temos a pretensão
de ser quem somos.
a pretensão de sentir,
e ainda há os pretenciosos...
Raça de assassinos e santos!
De poetas, de matemáticos.
de pintores, de químicos,
e músicos, e físicos.
raça do acho-que-sou-alguma-coisa,
mas não é merda nenhuma,
nem raça é.
nem viver, vive.
'o mistério é não haver mistério algum',
mas o melhor é fingir que há mistério
e viver, confortável, ensaiando para viver depois.
o tapa dói menos,
mas o roteiro é sofrível,
somos sofríveis e sofremos, por isso sofremos.
quanta pena devem ter de nós

quem deve?

talvez o assassino, talvez os santos
mas certamente quem tiver razão
o diabo é que ninguém tem razão
e se tivesse, seria um pobre-diabo.

quem deve?

talvez Deus, se ele existir.
talvez o demônio, se Deus existir.
mas os nossos próprios demônios têm razão
não sei qual, mas eles às têm...

Raça de jogados na cama
de depressivos que se fingem de alegres
anti-raça
macacos sem pelo,
racionais sem sentimenos,
a imagem e semelhança do que somos
é a pintura nítida do que não somos:
somos o que fingimos ser,
para não ser quem realmente somos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Dias são dias, e ponto.

O mundo é um ponto.
De exclamação, talvez!
De interrogação, quem sabe?
E por mais que alguém saiba,
Ninguém nunca vai saber.
Somos, ou estamos?
Queremos, ou estava pronto?
Podemos, ou estamos sujeitos?
O mundo é um ponto,
De exclamação, quem sabe?
De interrogação, talvez!
E estamos, ou somos
Sem saber se é melhor ser,
Ou é melhor estar,
E sem termos motivos pra ser e estar,
Afinal, não temos nada
Tudo é propriedade de tudo
E nós somos propriedade de tudo.
O mundo é um ponto.
A vida? Ah, a vida são reticências...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

assassinato por amor.

Ela virá com um sorriso e uma arma,
Não sei ainda se revólver, se faca,
mas com a certeza da vitória pronta,
e eu, sabedor do que irá acontecer
apenas serei um resignado do destino...
Minhas lágrimas serão pelo que não fiz,
Por todo amor que eu tive e será demonstrado,
E pela família, pelos amigos, aah! Sempre os amigos.
Ela me tomará em seus braços, enquanto desfaleço,
E rirá, sentirá o poder da vitória, gargalhará!
E me beijará pra demonstrar poder,
Nessa hora minha alma será entregue a Deus,
Passará às Suas mãos pela mão do próprio Diabo.
E ela perceberá o jogo perdido,
Pelo terno, eterno, e simples motivo, de não haver mais jogo.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Diálogo.

- Continue, então...
- Eu não tenho mais nada pra dizer sobre isso, você já sabe o que eu penso.
- As vezes eu acho que você não pensa.
- Lá vem você com suas ironias...
- Não é ironia...
- Vai tomar no olho do seu cu, então.
- Lá vem você com seus palavrões.
- Será que você não vai crescer nunca?
- Vai tomar no cu.
- Eu já te disse, né? Não adianta, enquanto for assim não dá! Você tem que respeitar, pensar um pouco mais no umbigo dos outros, e parar de enxergar só o seu...
- Eu já sei o que você pensa, meu amor.
- Deixa eu continuar...
- Não foi você mesma quem disse que não tinha mais nada a dizer sobre isso?
- Fui eu mesma!
- Então, cala a boca!
Foram pra cama, e puderam ser felizes por mais uma noite.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Na casa de Deus.

Um dia bateu à porta da casa de Deus um homem. E Deus, que não é lá muito acostumado à visitas, se ajeitou às pressas e foi atender. E Ele, onisciente e onipresente, ficou surpreso como poucas vezes na eternidade ao constatar a presença de um ser humano na porta de Sua casa, sem que ele tivesse adivinhado ou permitido tal enfrentamento. Deus mal teve tempo de pensar, e escutou:
- Você tem algum talento aí?
Deus ficou mais surpreso do que antes. Não sabia o que pensar, não entendera o sentido da pergunta, e convidou o homem para entrar. Sentados os dois, o Criador pediu explicações.
- Olha aqui, meu Senhor, eu sou uma pessoa sem talentos. É isso, irremediavelmente isso. Nasci um ou dois dias antes do que era previsto, e por isso não vim no tempo certo, mas também não posso ser considerado prematuro. Nasci na média, não muito gordo, nem muito magro. Quando eu era criança podia-se notar minha falta de habilidade para desenhar, para colorir, e nem jogar bola eu sabia. Mas preste atenção, não é que eu fosse o pior em tudo, eu estava na média, não era bom nem ruim em nada. Era mediano, e ponto final.
Deus, atônito, continuou ouvindo o desabafo.
- Gente cresce, né? Não sei como aconteceu aí, com Sua Santíssima Santidade. Mas, sim, eu me tornei adolescente, e apesar de nunca ter dado nenhum problema em casa, ou na escola, minhas notas nunca passaram de sessenta e cinco. Eu também nunca tive nenhum problema com mulheres, nem nada disso, eu sempre tive aquelas mulheres que nunca eram as primeiras da lista, mas também nunca foram dispensáveis. Fui um aluno médio na faculdade, nunca consegui ser comunista, por gostar muito das minhas coisas, das minhas propriedades privadas, mas sempre achei o capitalismo injusto, o que me excluiu por toda a vida de qualquer debate político. Casei aos vinte e seis, e tive três filhos. Nunca amei demais, nunca bebi demais, não usei drogas, mas tinha vontade, nunca fiz nada que fosse considerado incomum, nem fui motivo de discussão.
Ao que o Todo-Poderoso decidiu intervir:
- Você, meu filho, pode ser considerado um homem com o pouco comum talento da ponderação. Um tipo raro, e eu diria em extinção . Isso que você chama de falta de talento, pode ser, sim, considerado um talento maior.
- Esse é um argumento comum. Muito comum para vir de Alguém como o Senhor. E, apesar de comum, ele é falso. Pois, veja bem, não é por causa dos outros que eu acho o capitalismo um sistema injusto, é, simplesmente, porque nesse sistema existe gente mais rica e poderosa do que eu. E eu não tinha acesso às mulheres mais bonitas por falta de coragem, e não por pensar que eu não poderia satisfazê-las, eu sempre achei tudo, mas tudo mesmo, muito abaixo de mim. Não era pra me cuidar que eu não usava drogas, era por medo. Nunca amei demais por medo. Tudo que eu não fiz, não fiz por medo. E o que eu fiz não é nenhum mérito, já estava tudo ali, pronto, e eu só tinha que puxar pra mim, e alegar que a obra era minha.
Deus começou a sentir-se estranhamente identificado com a história que escutava. Achou o sujeito simpático. Mas não podia concordar com tudo, Ele, em Sua extraordinária competência, não podia ter deixado um homem sem nada para se vangloriar, era impossível.
- Então você pode ter o talento de ter todos os talentos, apesar de nenhum deles ser evidente!
E Deus concluiu, radicalizando, como se aquele raciocínio fosse um lance genial:
- Você tem o talento de não ser ruim em nada, de conseguir ser a média em tudo.
- Isso não pode ser considerado um talento, sendo que qualquer, eu repito, QUALQUER, homem pode conseguir esse feito com algum esforço, dependendo das habilidades e dos talentos de cada um.
Deus desistiu. Entregou as pontos.Logo Ele que não era disso. Resolveu que tinha errado, e que em Sua magnificência deveria repor de alguma maneira aquele homem tão injustiçado:
-Pois me peça qualquer coisa que eu te dou!
- Qualquer coisa dentre todas que existem!?
-Qualquer uma.
- Então, eu quero ser Deus. Eu reúno todas qualidades necessárias para Isso.