quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Parabéns, ou só praela!

Pra mariana

Agora que você cresceu
Eu já posso te falar de tudo
Eu já posso te cercar num canto
Te contar os segredos mais loucos.

Agora que você cresceu
E já tem idade pra entender
Você pode me achar maluco
(meio por mim, meio por você).

Agora que você cresceu
Eu já posso dizer que te amo
Perante a justiça, na vista de Deus
Sem motivo pra dúvida dos meus, ou dos seus

Agora que você cresceu
Eu quero te beijar na boca
E quero desde criança você
E ainda desde criança eu

Eu quero do mesmo jeito
Agora que você cresceu.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Paratodas (e para que venham outras).

Mariana, Ana, Flávia
Mas quem disse que me amava!
Isabela, Bela, Kika
Babalu e Barbaras,
Nada posso e quem pode mais?
Paula, Lívia, Carolina
Thaís, Raíssa, Ari, Letícia
Monique, má, Maísa, Maria
Rafaela, Naty, Lina
Capitu, Clarice, Nina
(e nada disso me domina)
Rita, amadas, e Tieta
E êta!
Êta, Coraçãozinho Besta!

sábado, 24 de outubro de 2009

Qual!

- Eu te amo.

Não foi a primeira vez que ela me disse isso, e nem a primeira vez que eu escutei algo do tipo. Rezei para os anjos bons e maus que fosse a última. Qual!

Ela alisou os próprios cabelos, e estava alguns quilômetros longe de mim. Tive a sensação de que não deveria ter visto essa cena, não poderia me interpor assim na privacidade alheia, mas ela riu, riu e mexeu no próprio cabelo quando disse que me amava, disso tenho certeza.

E aí eu quis saber porque ela riu, e perguntei a Deus, mas dessa vez ninguém me disse e nem mostrou nada. Eu fiquei vazio, sozinho, morto de vontades, e quis que alguém me consolasse. Pensei numa puta, ou num bar. Escolhi o bar, pra não correr riscos de me apaixonar e escutar tamanha barbaridade de novo.

Mas aí resolveram falar alguma coisa comigo, e foi no fundo dum copo de cachaça que eu a vi se arrumando pra dormir, rezando um Pai Nosso, com Deus logo acima de acima de seu corpo. Ele ria mais do que ela, eu, ou qualquer outra/outro, já tinha rido na face da Terra. E Ele me disse Olha lá, olha lá, tá rezando pra Mim, a boca reza como se fosse pra Mim, mas tá pensando em você! E riu, e riu, e riu. E eu perguntei pra Ele porque ele não escolhia outro pra fazer lá das Suas artes, e ele me respondeu que Ora, é óbvio, você é um artista! E sumiu, me largou no fundo do copo, vendo ela fingir que rezava enquanto pensava em mim.

E como se nada disso tivesse acontecido, e o inimaginável e improvável fossem apenas realidade, eu voltei a mim sentado no bar, bebi a cachaça num gole, e tive certeza que ela escutava meus pensamentos. Ahh, quanta certeza ela teria que eu sou louco! Meus pensamentos são uma cova funda, baby! Não entra, não... Não entra, não. Não entra, não! Qual! Entrou. E aí eu entendi porque ela pensava em mim antes de dormir, e na verdade, era eu que pensava nela, e ela vendo, ouvindo, sentindo o frio, o fundo, e o negro dos meus pensamentos, pensava em mim também. Louca, ela! Doidinha da Silva!

E como ela pensasse em mim, e estivesse dentro dos meus pensamentos, sabia que era só questão de querer pra eu entrar na cabeça dela também, e assim, cachaça subindo à cabeça, e cabeça descendo ao copo, vi que ela devia ter sentido uma leve tontura antes de dormir, mas saí de lá antes que eu visse mais alguma coisa que eu não quisesse ver, porque o pensamento das outras pessoas deve ser cheio dessas imagens.

E lá estava eu! Sentado no copo, com ela sentada do meu lado, e ela disse Cara, Você é muito maluco! Muito mesmo! Eu vi isso tudo!, eu queria ter ficado calado, mas preferi dizer que ela tinha visto, mas não tinha entendido nada. Qual! Eu já estava cansado de saber que entende quem vê, e quem vê e entende não entendeu patativas! E ela disse Patativas!? Achava que essa palavra não existia mais..., e eu pensei Que merda! Que merda! Ela dentro dos meus pensamentos, ela sabe que entendeu, agora tudo, tudo, tudo se perdeu e pronto! Merda!, me desanimei, deitei no fundo do copo pra sentir um pouco do cheiro da cachaça, e me embriagar do seu perfume, tudo já estava perdido, eu não sabia o que pensava, e menos ainda no que pensar, quando ela me disse:

- Eu também te amo!

domingo, 18 de outubro de 2009

Amealhado, abestalhado, lado
Uns tais da silva, uns bons josés
Uns feito fato, outros imaginados
Reais real, e meu cabelo em pé
Aos outros então, abraço
Dá-se que me dou de fim eterno
O balance suave do meu terno
Quando não está vestido de mim
Ques problemas! Quês cansaços!
E eu da vida não sei que acho
Lanço uns sons, não sei como faço
É livre, é solto, e vive preso aqui
Quanta bobagem! A vida é curta!
(...Quanta bobagem! A vida é curta!)
E por curta entenda apenas vida
Que depois, que após, que nada
Não há mais nada para ser dito
Os antigos já descobriram é tudo
Mas os antigos são tão passado
E o passado é tão antigo
(Meu mito:)
Não sei, não, ‘seu’ Shakespeare,
Tenho medo tanto de ser, quanto não ser.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Uma Baforada...

E na mesa, de repente, todos levaram o copo à boca, enquanto ele tragava prazerosamente seu cigarro. Um comentou:
- Aproveita que daqui a pouco proíbem.
Deu mais uma tragada, e soprou a fumaça pra cima. Outro falou:
- Isso mata. Quem fuma e quem fica perto de quem fuma. Tem mais é que proibir!
Dessa vez soltou a fumaça na mesa. A maioria tossiu e olhou feio, um ou dois riram. Ele perguntou se alguém ali já tinha lido Fernando Sabino, e como a maioria tinha lido somente ‘O Menino no Espelho’, e para filhos ou sobrinhos, ele começou a falar:
- É a idéia do Terror, meus caros. Agora a medicina tomou o lugar da Santa Inquisição. É a Santa Médica Inquisição!
Ninguém disse nada, mas a mesa se encheu de ruídos.
- Somos todos obrigados a ser saudáveis! Ora, e quem não quiser viver até os oitenta?
Soprou na mesa mais uma vez, e dessa vez todo mundo permaneceu calado.
- Pois agora imaginem o contrário... Todo mundo obrigado a fumar pelo menos meio maço por dia na rua. E um cigarro dentro de ambientes fechados. É o terror, é o terror, meus amigos! Cinqüenta por cento da população mundial com câncer, e os médicos, fumantes, sendo obrigados a pesquisar uma cura para a própria morte.
Soprou para o alto.
- A indústria do cigarro empregando, a população mundial diminuída, e todo mundo comendo menos. A família, crianças, adultos, e uns poucos idosos, fumando juntos depois da janta. Novos perfumes, novos produtos eliminando qualquer cheiro ruim que o cigarro causasse.
Acendeu outro cigarro.
- É o terror, a inversão da ordem! Todo mundo correndo menos, e querendo fumar mais,e mais, e mais.
Tragou, e tragou de novo da mesma fumaça, sem deixar vestígio de nicotina pelo ar.
- Mas infelizmente o mundo não pode ser tão perfeito, e ninguém está aqui obrigado. Podem sair, se minha fumaça lhes causa tão mal. Mudem de mesa. E também parem de beber pra evitar a cirrose e a má criação!
Soprou de novo na cara de cada um, mas dessa vez ninguém falou nada, e pareceu, na verdade, que todos tragaram aquela fumaça.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sangue, vinho e vidro.

Eram duas taças na metade, e os dois, sem olhar nos olhos um do outro, as esvaziaram. E como a vida é feita em parte por grandes momentos disfarçados, e em outra parte por momentos em que é mais fácil desistir das coisas maiores, os dois, ainda sem se olhar, viraram a cabeça e desistiram de tudo.
Não é que fossem fracos, pouco românticos, nem nada. Apenas achavam aquilo tudo muito chato. As mesmas taças, o mesmo vinho pretensiosamente francês, a mesma vida, enfim.
Dias são iguais, pensaram sem dizer nada. Tudo é igual.
E ele, já pronto pra tomar outro gole, pra deixar aquilo tudo mais divertido, e pra cumprir a rotina de beber, escutar, e cama, deixou a garrafa escorregar entre seus dedos, quebrar, e manchar o tapete persa, presente da mãe dela que tinha morrido não faz muito tempo.
Verdade que não fosse isso, não haveria narrativa, ele ou ela, e nem mesmo o tapete, mas mesmo assim a moça se descontrolou.
Falou um monte. Disse palavrões finos, mas também os de vulgaridade mais acima da média, xingou da primeira à última geração do sujeito.
O tapete, disse ela, era caro e valia mais de dois mil reais. Mentira. E ela sabia que era mentira, o tapete era herança da época em que o pai tinha que fingir ter posses para casar-se com a mãe, e tinha custado uns poucos cruzeiros em alguma feira hippie.
Mas agora era a vez dela de fingir. E como eu respeito isso, cabe a você que lê respeitar também, agüentar calado, ou parar por aqui.
Agora, se você não parou, escute.
Era tudo um grande teatro, ela gritando, ele gritando desculpas, a garrafa quebrada, e o vinho, vermelho como o sangue, e roxo como o amor, espalhado nos desenhos árabes do tapete.
O caos já estava instaurado, a rotina, pelo menos por uma noite, era finda.
E ele, cansado que estava, disse que o tapete era feio e desenhos árabes são muito mais artísticos quando manchados por vinho. Ela deveria agradecer, eu concordo com isso, mas pareceu haver ali certo tom de ironia ou desrespeito, e a moça não levou isso muito friamente, por assim dizer.
Pegou um pedaço do caco de vidro que estava no chão, e foi pra cima dele, disse que queria matar. O sujeito, já impregnado da cena que ele próprio criara, resolveu dramatizar.
Tirou a camisa, ofereceu o peito, disse que a vida não valia nada, e que, realmente, o tapete persa era mais caro que ele. Que lhe matasse!
Ela foi pra cima dele, mas se arrependeu logo que a primeira gota de sangue caiu do peito nu, misturando-se ao vinho e ao vidro no chão. Chegou a ter um lapso, pensou que éramos todos constituídos por sangue, vinho e vidro, mas não deu muita atenção a isso.
A moça o tinha cortado pouco, muito pouco. Parece que enfraquecera sua coragem conforme avançava para cima dele. Ele estava sangrando, mas não muito, e ela agora o abraçava chorando, pedia desculpas.
Amaram-se ali mesmo, sobre desenhos árabes, e entre vinho, sangue e vidro.
Mas como a vida é feita em parte por grandes momentos disfarçados, e em outra por momentos em que é mais fácil desistir do que tornar maior, os dois continuaram sem se olhar, e não disseram nada sobre o que tinha acontecido, o problema da sujeira a faxineira resolveria de manhã, e nenhum dos dois tinha nada a declarar.
Ela ficou nervosa, fora intensa como nunca, e queria dizer alguma coisa. Disse.
- Estou cansada desse vinho. Acho que devíamos trocar por um português...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Casa de Espelhos.

É incessante, então
Podia acontecer, mas não acontece
Olhos, como por função, miram
Há uma cena pra ser descrita
E preguiça...
(COMO EU QUERIA SER FRANCÊS,OU ALEMÃO)
Alemães frios, franceses belos e românticos,
E eu mal sei sambar.
Quem sabe se todos sorrissem,
Ou, simplesmente não preservassem gestos,
Talvez fosse melhor assim.
Podia...
Falar em amor, sem dizer amor.
Seriam sonhos?
Vai lá! Segue um caminho irreal como o resto.
Tomada de decisões. Sou forte.
Cessa...