quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Haikais

1
No céu chovia com força:
E cada gota que caía
Molhava minha vida toda.
2
Tinha os olhos azuis
Mas era tão, tão chique,
que acabaram ficando blues...
3
Fazia sol, e coisa e tal
Mas não faltava neve
Na árvore de natal
4
Vida, vida, noves fora
Eu te amo muito, até demais
Vamos comigo pra Bora-bora?

5
Deixa a dor, deixa o estrago
Esquece o mal, e o cansaço
E passa o resto da vida do meu lado.


6
Demorou, mas eu percebi
Que a irmã que eu escolhi,
Foi a que escolheram pra mim.

7
Chega de preciosismo!
Faz depressa esse gol,
Se não eu cismo.

8
Será que a sobremesa
Fez o gosto
Daquela freguesa?

9
Ahh... Esses Linguistas!
Será que ninguém contou pra eles
Que tem coisa melhor pra fazer com a língua?

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Entre risos

Entre risos, quereres e prantos
minha angústia se perdeu nos meus sonhos,
entre manias de signo, e afins
minha angústia se esconde em mim

Pero sigo buscando la miel
en mis deseos estoy ahogado
y los amores, mis frutos podridos
me encantán, me vuelven chiflado
pero sigo de ojos cerrados
así me duermo, que venga mañana!
con nuevos sueños, nuevos deseos,
una felicidad que me sea temprana
y no se acuerde del pasado tan feo
ni del dolor que me ahorcó los sentidos
ya lo acepto, y sigo viviendo
por que así es que lo quiso
nuestro amado Señor, Jesus Cristo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Café Chinitas* (in Brazil)

Num barzinho de esquina
Disse Paquinho ao estranho
‘Sô már valente que tu
Mais boleiro e mais malandro!’

Num barzinho de esquina
Disse Paquinho ao estrangeiro
‘Sô már valente que tu
Mais malandro e mais boleiro!’

Tirou o relógio do bolso
E disse bem desse jeito
“essa partida eu decido,
E eles não passam do meio!’

É hora! O jogo na tevê,
Sabiam, do bar ao jornal!
E o Paquinho na tevê,
Na Seleção Nacional!

*Versão para ‘Café Chinitas’ de Federico García Lorca.

sábado, 21 de novembro de 2009

Poemas de Noite em Claro

Os prédios, delineadores de horizonte
Chuva forte, peito molhado, a cena é bonita
Delineadores de vida, palavras e gestos
Chuva forte, rosto molhado, a cena é triste
nada como a saudade para nos mostrar quem somos
nada como o medo para nos mostrar porquês.
Vou, vida molhada no bolso
pedras mostrando quem fica
o mundo provando que existe.
Se...

.

Vestido de tristeza,
Meu terno quadrado e mofado,
Calço, justo, o aperto do sapato,
Água no rosto, me lavo com o fato,
E justiça seja feita,
Estou pronto pro retrato.

.


Manalaparadepatiticabum,
Beijos, cafés. Cigarrillo, vai um?
Manalá, manalaê, manalá
Fome, frio, bruxaria e cabala
Manalaê, Manalá, Manalaê
Febre, família, medo, porque?
Manalamoçadeparacefabem
Moça, moço, bicho, eu também
Manalalá, manaláqui, manamor
Sonho, sarro, e beijo de amor
Manaláparadefazeumbocó
Cigarro guardado. Cê vê, é o ó!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Um quase Giotto di Bondone

Era afeito às coisas simples,
Como o pintor que desenhou um círculo.
Era Forte. Breve, mas forte,
E se fosse americano,
Era bem capaz de fazer filme americano!
(se fosse francês não passaria na porta de um cinema...)
Mas nasceu, e já devia ter um ano que nasceu,
Na corda sempre bamba da América do Sul:
Pra não ser rico
Pra não ser fino
Nem elegante
Nem quixotesco
Nem jogador
Ator de novela
Não era nada
Nem muita coisa
E um belo dia
Conheceu Morena
Conheceu Morena
Conheceu Morena...
E foi conhecer Morena, deu pra escrever poesia!
(e gostar de cinema francês, o coitado!)

Um dia Morena cansou de ser Morena,
Mudou, mudou, Morena mudou de forma,
Passou a folha de papel em branco.
(Daí pra nunca mais...)

A simplicidade perdeu das suas cores fracas,
O círculo deixou de ser círculo
E virou filosofia...

Pobre Morena!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Parabéns, ou só praela!

Pra mariana

Agora que você cresceu
Eu já posso te falar de tudo
Eu já posso te cercar num canto
Te contar os segredos mais loucos.

Agora que você cresceu
E já tem idade pra entender
Você pode me achar maluco
(meio por mim, meio por você).

Agora que você cresceu
Eu já posso dizer que te amo
Perante a justiça, na vista de Deus
Sem motivo pra dúvida dos meus, ou dos seus

Agora que você cresceu
Eu quero te beijar na boca
E quero desde criança você
E ainda desde criança eu

Eu quero do mesmo jeito
Agora que você cresceu.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Paratodas (e para que venham outras).

Mariana, Ana, Flávia
Mas quem disse que me amava!
Isabela, Bela, Kika
Babalu e Barbaras,
Nada posso e quem pode mais?
Paula, Lívia, Carolina
Thaís, Raíssa, Ari, Letícia
Monique, má, Maísa, Maria
Rafaela, Naty, Lina
Capitu, Clarice, Nina
(e nada disso me domina)
Rita, amadas, e Tieta
E êta!
Êta, Coraçãozinho Besta!

sábado, 24 de outubro de 2009

Qual!

- Eu te amo.

Não foi a primeira vez que ela me disse isso, e nem a primeira vez que eu escutei algo do tipo. Rezei para os anjos bons e maus que fosse a última. Qual!

Ela alisou os próprios cabelos, e estava alguns quilômetros longe de mim. Tive a sensação de que não deveria ter visto essa cena, não poderia me interpor assim na privacidade alheia, mas ela riu, riu e mexeu no próprio cabelo quando disse que me amava, disso tenho certeza.

E aí eu quis saber porque ela riu, e perguntei a Deus, mas dessa vez ninguém me disse e nem mostrou nada. Eu fiquei vazio, sozinho, morto de vontades, e quis que alguém me consolasse. Pensei numa puta, ou num bar. Escolhi o bar, pra não correr riscos de me apaixonar e escutar tamanha barbaridade de novo.

Mas aí resolveram falar alguma coisa comigo, e foi no fundo dum copo de cachaça que eu a vi se arrumando pra dormir, rezando um Pai Nosso, com Deus logo acima de acima de seu corpo. Ele ria mais do que ela, eu, ou qualquer outra/outro, já tinha rido na face da Terra. E Ele me disse Olha lá, olha lá, tá rezando pra Mim, a boca reza como se fosse pra Mim, mas tá pensando em você! E riu, e riu, e riu. E eu perguntei pra Ele porque ele não escolhia outro pra fazer lá das Suas artes, e ele me respondeu que Ora, é óbvio, você é um artista! E sumiu, me largou no fundo do copo, vendo ela fingir que rezava enquanto pensava em mim.

E como se nada disso tivesse acontecido, e o inimaginável e improvável fossem apenas realidade, eu voltei a mim sentado no bar, bebi a cachaça num gole, e tive certeza que ela escutava meus pensamentos. Ahh, quanta certeza ela teria que eu sou louco! Meus pensamentos são uma cova funda, baby! Não entra, não... Não entra, não. Não entra, não! Qual! Entrou. E aí eu entendi porque ela pensava em mim antes de dormir, e na verdade, era eu que pensava nela, e ela vendo, ouvindo, sentindo o frio, o fundo, e o negro dos meus pensamentos, pensava em mim também. Louca, ela! Doidinha da Silva!

E como ela pensasse em mim, e estivesse dentro dos meus pensamentos, sabia que era só questão de querer pra eu entrar na cabeça dela também, e assim, cachaça subindo à cabeça, e cabeça descendo ao copo, vi que ela devia ter sentido uma leve tontura antes de dormir, mas saí de lá antes que eu visse mais alguma coisa que eu não quisesse ver, porque o pensamento das outras pessoas deve ser cheio dessas imagens.

E lá estava eu! Sentado no copo, com ela sentada do meu lado, e ela disse Cara, Você é muito maluco! Muito mesmo! Eu vi isso tudo!, eu queria ter ficado calado, mas preferi dizer que ela tinha visto, mas não tinha entendido nada. Qual! Eu já estava cansado de saber que entende quem vê, e quem vê e entende não entendeu patativas! E ela disse Patativas!? Achava que essa palavra não existia mais..., e eu pensei Que merda! Que merda! Ela dentro dos meus pensamentos, ela sabe que entendeu, agora tudo, tudo, tudo se perdeu e pronto! Merda!, me desanimei, deitei no fundo do copo pra sentir um pouco do cheiro da cachaça, e me embriagar do seu perfume, tudo já estava perdido, eu não sabia o que pensava, e menos ainda no que pensar, quando ela me disse:

- Eu também te amo!

domingo, 18 de outubro de 2009

Amealhado, abestalhado, lado
Uns tais da silva, uns bons josés
Uns feito fato, outros imaginados
Reais real, e meu cabelo em pé
Aos outros então, abraço
Dá-se que me dou de fim eterno
O balance suave do meu terno
Quando não está vestido de mim
Ques problemas! Quês cansaços!
E eu da vida não sei que acho
Lanço uns sons, não sei como faço
É livre, é solto, e vive preso aqui
Quanta bobagem! A vida é curta!
(...Quanta bobagem! A vida é curta!)
E por curta entenda apenas vida
Que depois, que após, que nada
Não há mais nada para ser dito
Os antigos já descobriram é tudo
Mas os antigos são tão passado
E o passado é tão antigo
(Meu mito:)
Não sei, não, ‘seu’ Shakespeare,
Tenho medo tanto de ser, quanto não ser.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Uma Baforada...

E na mesa, de repente, todos levaram o copo à boca, enquanto ele tragava prazerosamente seu cigarro. Um comentou:
- Aproveita que daqui a pouco proíbem.
Deu mais uma tragada, e soprou a fumaça pra cima. Outro falou:
- Isso mata. Quem fuma e quem fica perto de quem fuma. Tem mais é que proibir!
Dessa vez soltou a fumaça na mesa. A maioria tossiu e olhou feio, um ou dois riram. Ele perguntou se alguém ali já tinha lido Fernando Sabino, e como a maioria tinha lido somente ‘O Menino no Espelho’, e para filhos ou sobrinhos, ele começou a falar:
- É a idéia do Terror, meus caros. Agora a medicina tomou o lugar da Santa Inquisição. É a Santa Médica Inquisição!
Ninguém disse nada, mas a mesa se encheu de ruídos.
- Somos todos obrigados a ser saudáveis! Ora, e quem não quiser viver até os oitenta?
Soprou na mesa mais uma vez, e dessa vez todo mundo permaneceu calado.
- Pois agora imaginem o contrário... Todo mundo obrigado a fumar pelo menos meio maço por dia na rua. E um cigarro dentro de ambientes fechados. É o terror, é o terror, meus amigos! Cinqüenta por cento da população mundial com câncer, e os médicos, fumantes, sendo obrigados a pesquisar uma cura para a própria morte.
Soprou para o alto.
- A indústria do cigarro empregando, a população mundial diminuída, e todo mundo comendo menos. A família, crianças, adultos, e uns poucos idosos, fumando juntos depois da janta. Novos perfumes, novos produtos eliminando qualquer cheiro ruim que o cigarro causasse.
Acendeu outro cigarro.
- É o terror, a inversão da ordem! Todo mundo correndo menos, e querendo fumar mais,e mais, e mais.
Tragou, e tragou de novo da mesma fumaça, sem deixar vestígio de nicotina pelo ar.
- Mas infelizmente o mundo não pode ser tão perfeito, e ninguém está aqui obrigado. Podem sair, se minha fumaça lhes causa tão mal. Mudem de mesa. E também parem de beber pra evitar a cirrose e a má criação!
Soprou de novo na cara de cada um, mas dessa vez ninguém falou nada, e pareceu, na verdade, que todos tragaram aquela fumaça.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sangue, vinho e vidro.

Eram duas taças na metade, e os dois, sem olhar nos olhos um do outro, as esvaziaram. E como a vida é feita em parte por grandes momentos disfarçados, e em outra parte por momentos em que é mais fácil desistir das coisas maiores, os dois, ainda sem se olhar, viraram a cabeça e desistiram de tudo.
Não é que fossem fracos, pouco românticos, nem nada. Apenas achavam aquilo tudo muito chato. As mesmas taças, o mesmo vinho pretensiosamente francês, a mesma vida, enfim.
Dias são iguais, pensaram sem dizer nada. Tudo é igual.
E ele, já pronto pra tomar outro gole, pra deixar aquilo tudo mais divertido, e pra cumprir a rotina de beber, escutar, e cama, deixou a garrafa escorregar entre seus dedos, quebrar, e manchar o tapete persa, presente da mãe dela que tinha morrido não faz muito tempo.
Verdade que não fosse isso, não haveria narrativa, ele ou ela, e nem mesmo o tapete, mas mesmo assim a moça se descontrolou.
Falou um monte. Disse palavrões finos, mas também os de vulgaridade mais acima da média, xingou da primeira à última geração do sujeito.
O tapete, disse ela, era caro e valia mais de dois mil reais. Mentira. E ela sabia que era mentira, o tapete era herança da época em que o pai tinha que fingir ter posses para casar-se com a mãe, e tinha custado uns poucos cruzeiros em alguma feira hippie.
Mas agora era a vez dela de fingir. E como eu respeito isso, cabe a você que lê respeitar também, agüentar calado, ou parar por aqui.
Agora, se você não parou, escute.
Era tudo um grande teatro, ela gritando, ele gritando desculpas, a garrafa quebrada, e o vinho, vermelho como o sangue, e roxo como o amor, espalhado nos desenhos árabes do tapete.
O caos já estava instaurado, a rotina, pelo menos por uma noite, era finda.
E ele, cansado que estava, disse que o tapete era feio e desenhos árabes são muito mais artísticos quando manchados por vinho. Ela deveria agradecer, eu concordo com isso, mas pareceu haver ali certo tom de ironia ou desrespeito, e a moça não levou isso muito friamente, por assim dizer.
Pegou um pedaço do caco de vidro que estava no chão, e foi pra cima dele, disse que queria matar. O sujeito, já impregnado da cena que ele próprio criara, resolveu dramatizar.
Tirou a camisa, ofereceu o peito, disse que a vida não valia nada, e que, realmente, o tapete persa era mais caro que ele. Que lhe matasse!
Ela foi pra cima dele, mas se arrependeu logo que a primeira gota de sangue caiu do peito nu, misturando-se ao vinho e ao vidro no chão. Chegou a ter um lapso, pensou que éramos todos constituídos por sangue, vinho e vidro, mas não deu muita atenção a isso.
A moça o tinha cortado pouco, muito pouco. Parece que enfraquecera sua coragem conforme avançava para cima dele. Ele estava sangrando, mas não muito, e ela agora o abraçava chorando, pedia desculpas.
Amaram-se ali mesmo, sobre desenhos árabes, e entre vinho, sangue e vidro.
Mas como a vida é feita em parte por grandes momentos disfarçados, e em outra por momentos em que é mais fácil desistir do que tornar maior, os dois continuaram sem se olhar, e não disseram nada sobre o que tinha acontecido, o problema da sujeira a faxineira resolveria de manhã, e nenhum dos dois tinha nada a declarar.
Ela ficou nervosa, fora intensa como nunca, e queria dizer alguma coisa. Disse.
- Estou cansada desse vinho. Acho que devíamos trocar por um português...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Casa de Espelhos.

É incessante, então
Podia acontecer, mas não acontece
Olhos, como por função, miram
Há uma cena pra ser descrita
E preguiça...
(COMO EU QUERIA SER FRANCÊS,OU ALEMÃO)
Alemães frios, franceses belos e românticos,
E eu mal sei sambar.
Quem sabe se todos sorrissem,
Ou, simplesmente não preservassem gestos,
Talvez fosse melhor assim.
Podia...
Falar em amor, sem dizer amor.
Seriam sonhos?
Vai lá! Segue um caminho irreal como o resto.
Tomada de decisões. Sou forte.
Cessa...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Poemato Irônico

Só não quero ouvir falar em amor,
Nada de metafísicas das nossas almas...
Deixem-me casto em mim mesmo,
Preocupado com questões menos profundas,
Doendo de dores menos lancinantes,
E com pensamentos menos nobres.
Ser menos, afinal, para ser menos
E não ser, quem sabe? Só fingir...
Deixem-me sufocado por questões políticas,
Por ambietalices, ou até por novelas,
Sufocado pelo que não me diz respeito.
Abandonado,
Abandonante.
Interessado em ganhar dinheiro
E depois mais dinheiro,
E mais, e mais dinheiro
Muito mais dinheiro.
Pra gastar,
Pra falar que tenho hoje,
O que não quero, nem nunca quis.
Posso ser nada, nada do que quis ser
Isso pouco importa,
Só não me macem com histórias de amor,
Nada de amor, nada de amor...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

loiralinda

loiralinda

LOIRA LINDA,
Nariz empinado,
Narizinho, narizinho
Qual Monteiro Lobato...
LOIRA LINDA,
Que a vida é que pede,
LOIRA cerveja,
Loira que eu não vejo
Como não vejo, não vejo nada...
Só vejo corpo,
Mas vejo mais,
Eu vejo em versos,
Eu vejo mais!
LOIRA LINDA,
Loira Linda,
loiralinda...

domingo, 30 de agosto de 2009

Eu, você.

Quero te ver nua
Parada na minha frente
Com vergonha, impotente
Tentando se esconder dos meus olhos,
De você mesma, e do meu desejo.

Quero te ver nua
O corpo macio, a face vermelha,
Convencida tanto a ficar,
Como a correr e nunca mais ser vista
Eu, poder. Você, mulher.

Quero te ver nua,
Com os olhos pedindo, implorando
Pra eu não te comer só com os olhos
Com o corpo cheirando a dia comum,
Você, prostituta. Eu, qualquer um.

Quero te ver nua,
Te ver nua e não fazer mais nada,
Te ver nua, surda, e calada.
Te ver em mais alma do que pele.
Quero te ver nua...

Você, verme. Você, pura.
Eu, santo. Você, puta.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Lá onde o onde é onde,
Lugar que não admite discussão
Ponta de iceberg de calor humano
Perto, muito perto do coração,
Fronteira entre a gente querer,
E ter medo demais de ter vontade.
Terra de gente sem regras,
de gente sem lei de querer e amar.
Lá onde se admitem poetas,
Lá onde quem queria está,
Lá is the Never Land of poets, baby
But the place where the happiness exist,
The place, baby, é aqui.
É aqui onde é onde, onde eu sou seu lado
E onde o mundo é um lado,
Que está perto de nós...
Um lugar onde quem confessa é honesto,
E onde eu não confesso,
Porque é lugar de amores meus,
E onde só entra um desejo puro pelo seu sorriso...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

exercício de imaginação

Estou sentado bem perto do mar,
Quase na calçada, quase na areia,
Ainda não sei bem ao certo...
É noite, e chove de tempestade
A estrutura do mar se abala
E os uivos do vento assustariam qualquer um,
Fico mais tranquilo que nunca.
Sinto cada gota que se lança contra meu rosto,
Cada pedacinho de água que cai pelo meu corpo,
Estou só, mais só do que já estive
E aí posso rir como nunca.
De longe, não sei de onde
Meus ouvidos decifram uma canção que não me é estranha,
Pode ser Chico, Gil, Caetano, ou Raúl
Pode ser eu, pode ser qualquer um.
E de repente, percebo, é o Rio de Janeiro,
E vejo vindo ao meu eu encontro um Cristo de pedra,
Ele vai diminuindo pra eu chegar ao seu tamanho
Ele me olha, sorri pra mim,
Eu vou até ele, eu pedra molhada de chuva
Ele todo sangue, todo corpo, todo espírito
Sorrio também,
E lhe dou um abraço, e os braços abertos
Agora estão fechados em torno de mim...

Ele me diz em segredo:
“ estou esperando esse abraço faz séculos,
mas parece que ninguém tinha tido essa idéia”.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Aos insignificantes.

Fartíssimo de significados
Ando por aí, nem assim, nem assado
Alto aqui do meu tamanho
Procurando significantes no formigueiro
‘ entendo quem anda pelo mundo
Procurando em si mesmo, e nos outros
Uma maneira de saber o que se é,
Mas o melhor mesmo é não ser...’
Poderiam ter me dito, mas não disseram
Continuei minha viagem,
Aprofundei toda essa busca,
Pra não achar nada,
E pra não me achar em nada.
Existo, mas afinal, é como se não existisse
E se é assim melhor ser que não ser
Melhor o amor que o não-amor
Se felicidade não,
Se o impossível é realmente impossível,
Atentemo-nos aos significantes,
Signifiquemos,
Só isso, signifiquemos.

domingo, 2 de agosto de 2009

sem lenço, sem documento.

Eu não tenho medo de New York Times
Não tenho medo, não tem nada demais
Eu não tenho medo, The New York Times.
Não tenho medo de pseudo-americanos
Burros, gordos, imbecis, e americanizados,
não tenho medo de afro-americanos
seus carros conversíveis, seus dentes prateados.
Eu não tenho medo de nada que seja americano,
Porque eu sou o Brasil, porque eu sou meu sotaque.
Eu não tenho medo de gestos e coisas ianques!
Eu nunca tive medo de New York Times!
Eu sou as coisas de Minas, sorriso, Belo Horizonte!
I don’t want to know New York, tá bom?
Eu nunca quis sair daqui, não quero York nenhuma, ok?
Eu não tenho medo de loiras-burras americanas,
Nenhuma loira cheia de peitos, americana, me encanta
Nem com microfone na mão, nem com a força da grana
Sou sem por cento Caetano, nem Jackson, nem Madonna
Eu não tenho medo, THE NEW YORK TIMES!
Sou brasileiro-macho-vira-lata
De salto, brilho, batom, e saia.
Canalhas! Canalha!

domingo, 26 de julho de 2009

De qualquer modo estamos fugindo
Sumir é o verdadeiro motivo pra sumir.
Aah! Se ao menos existíssemos,
Se um para o outro pelo menos...
Somos o que somos para nós
Como se fôssemos invenções doentias,
Sádicas, impudicas e frias
de sensações sem o menor sentido,
mas isso se existíssemos...
só que como nem ao menos isso...
Ahh!Nem isso.
Então fugimos, simplesmente fugimos
Fomos, somos, e sempre seremos fugitivos
Não somos nada um pro outro,
Não fomos nada, e nem seremos...
Somos somente pensamento,
Nuvens de cigarro e pensamento
Somos as almas separadas de cada um,
Poderíamos ser mais se fôssemos juntos,
Mas somos apenas uma alma cada um,
Poderíamos ser dois se fôssemos juntos,
Somos apenas duas almas estranguladas divididas pela metade de cada um,
Poderíamos ser um, se fôssemos juntos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Meus sonhos com Ana.

Que vontade maluca de você,
De sonhar nós dois mais uma noite
De ir a pé, correndo, voando
Pra dar um jeito de te ver.
É loucura, eu sei que é,
Mas se isso é louco, é o que quero ser.
Eu quero te ser. Eu quero só te ser.
E que, de alguma maneira, sejamos.
Quero correr pro seu lado,
Mesmo que seja em sonho,
Quero sem nem saber se quero tanto.
Mas quero.
Te quero,
Por isso uma vontade maluca de você essa noite
De dormir depois de ver o seu sorriso,
Ou dormir te vendo sorrir.
Ou só sorrir
Ou só dormir, se meu sonho for você.

sábado, 18 de julho de 2009

eis a questão.

Estática e misteriosa vida
ensaio para outras vidas
teatro do sórdido
representação do respeito.
somos todos canalhas de nós mesmos,
não somos nada, mas nos damos por tudo.
Somos os outros dos outros
e mesmo assim temos a pretensão
de ser quem somos.
a pretensão de sentir,
e ainda há os pretenciosos...
Raça de assassinos e santos!
De poetas, de matemáticos.
de pintores, de químicos,
e músicos, e físicos.
raça do acho-que-sou-alguma-coisa,
mas não é merda nenhuma,
nem raça é.
nem viver, vive.
'o mistério é não haver mistério algum',
mas o melhor é fingir que há mistério
e viver, confortável, ensaiando para viver depois.
o tapa dói menos,
mas o roteiro é sofrível,
somos sofríveis e sofremos, por isso sofremos.
quanta pena devem ter de nós

quem deve?

talvez o assassino, talvez os santos
mas certamente quem tiver razão
o diabo é que ninguém tem razão
e se tivesse, seria um pobre-diabo.

quem deve?

talvez Deus, se ele existir.
talvez o demônio, se Deus existir.
mas os nossos próprios demônios têm razão
não sei qual, mas eles às têm...

Raça de jogados na cama
de depressivos que se fingem de alegres
anti-raça
macacos sem pelo,
racionais sem sentimenos,
a imagem e semelhança do que somos
é a pintura nítida do que não somos:
somos o que fingimos ser,
para não ser quem realmente somos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Dias são dias, e ponto.

O mundo é um ponto.
De exclamação, talvez!
De interrogação, quem sabe?
E por mais que alguém saiba,
Ninguém nunca vai saber.
Somos, ou estamos?
Queremos, ou estava pronto?
Podemos, ou estamos sujeitos?
O mundo é um ponto,
De exclamação, quem sabe?
De interrogação, talvez!
E estamos, ou somos
Sem saber se é melhor ser,
Ou é melhor estar,
E sem termos motivos pra ser e estar,
Afinal, não temos nada
Tudo é propriedade de tudo
E nós somos propriedade de tudo.
O mundo é um ponto.
A vida? Ah, a vida são reticências...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

assassinato por amor.

Ela virá com um sorriso e uma arma,
Não sei ainda se revólver, se faca,
mas com a certeza da vitória pronta,
e eu, sabedor do que irá acontecer
apenas serei um resignado do destino...
Minhas lágrimas serão pelo que não fiz,
Por todo amor que eu tive e será demonstrado,
E pela família, pelos amigos, aah! Sempre os amigos.
Ela me tomará em seus braços, enquanto desfaleço,
E rirá, sentirá o poder da vitória, gargalhará!
E me beijará pra demonstrar poder,
Nessa hora minha alma será entregue a Deus,
Passará às Suas mãos pela mão do próprio Diabo.
E ela perceberá o jogo perdido,
Pelo terno, eterno, e simples motivo, de não haver mais jogo.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Diálogo.

- Continue, então...
- Eu não tenho mais nada pra dizer sobre isso, você já sabe o que eu penso.
- As vezes eu acho que você não pensa.
- Lá vem você com suas ironias...
- Não é ironia...
- Vai tomar no olho do seu cu, então.
- Lá vem você com seus palavrões.
- Será que você não vai crescer nunca?
- Vai tomar no cu.
- Eu já te disse, né? Não adianta, enquanto for assim não dá! Você tem que respeitar, pensar um pouco mais no umbigo dos outros, e parar de enxergar só o seu...
- Eu já sei o que você pensa, meu amor.
- Deixa eu continuar...
- Não foi você mesma quem disse que não tinha mais nada a dizer sobre isso?
- Fui eu mesma!
- Então, cala a boca!
Foram pra cama, e puderam ser felizes por mais uma noite.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Na casa de Deus.

Um dia bateu à porta da casa de Deus um homem. E Deus, que não é lá muito acostumado à visitas, se ajeitou às pressas e foi atender. E Ele, onisciente e onipresente, ficou surpreso como poucas vezes na eternidade ao constatar a presença de um ser humano na porta de Sua casa, sem que ele tivesse adivinhado ou permitido tal enfrentamento. Deus mal teve tempo de pensar, e escutou:
- Você tem algum talento aí?
Deus ficou mais surpreso do que antes. Não sabia o que pensar, não entendera o sentido da pergunta, e convidou o homem para entrar. Sentados os dois, o Criador pediu explicações.
- Olha aqui, meu Senhor, eu sou uma pessoa sem talentos. É isso, irremediavelmente isso. Nasci um ou dois dias antes do que era previsto, e por isso não vim no tempo certo, mas também não posso ser considerado prematuro. Nasci na média, não muito gordo, nem muito magro. Quando eu era criança podia-se notar minha falta de habilidade para desenhar, para colorir, e nem jogar bola eu sabia. Mas preste atenção, não é que eu fosse o pior em tudo, eu estava na média, não era bom nem ruim em nada. Era mediano, e ponto final.
Deus, atônito, continuou ouvindo o desabafo.
- Gente cresce, né? Não sei como aconteceu aí, com Sua Santíssima Santidade. Mas, sim, eu me tornei adolescente, e apesar de nunca ter dado nenhum problema em casa, ou na escola, minhas notas nunca passaram de sessenta e cinco. Eu também nunca tive nenhum problema com mulheres, nem nada disso, eu sempre tive aquelas mulheres que nunca eram as primeiras da lista, mas também nunca foram dispensáveis. Fui um aluno médio na faculdade, nunca consegui ser comunista, por gostar muito das minhas coisas, das minhas propriedades privadas, mas sempre achei o capitalismo injusto, o que me excluiu por toda a vida de qualquer debate político. Casei aos vinte e seis, e tive três filhos. Nunca amei demais, nunca bebi demais, não usei drogas, mas tinha vontade, nunca fiz nada que fosse considerado incomum, nem fui motivo de discussão.
Ao que o Todo-Poderoso decidiu intervir:
- Você, meu filho, pode ser considerado um homem com o pouco comum talento da ponderação. Um tipo raro, e eu diria em extinção . Isso que você chama de falta de talento, pode ser, sim, considerado um talento maior.
- Esse é um argumento comum. Muito comum para vir de Alguém como o Senhor. E, apesar de comum, ele é falso. Pois, veja bem, não é por causa dos outros que eu acho o capitalismo um sistema injusto, é, simplesmente, porque nesse sistema existe gente mais rica e poderosa do que eu. E eu não tinha acesso às mulheres mais bonitas por falta de coragem, e não por pensar que eu não poderia satisfazê-las, eu sempre achei tudo, mas tudo mesmo, muito abaixo de mim. Não era pra me cuidar que eu não usava drogas, era por medo. Nunca amei demais por medo. Tudo que eu não fiz, não fiz por medo. E o que eu fiz não é nenhum mérito, já estava tudo ali, pronto, e eu só tinha que puxar pra mim, e alegar que a obra era minha.
Deus começou a sentir-se estranhamente identificado com a história que escutava. Achou o sujeito simpático. Mas não podia concordar com tudo, Ele, em Sua extraordinária competência, não podia ter deixado um homem sem nada para se vangloriar, era impossível.
- Então você pode ter o talento de ter todos os talentos, apesar de nenhum deles ser evidente!
E Deus concluiu, radicalizando, como se aquele raciocínio fosse um lance genial:
- Você tem o talento de não ser ruim em nada, de conseguir ser a média em tudo.
- Isso não pode ser considerado um talento, sendo que qualquer, eu repito, QUALQUER, homem pode conseguir esse feito com algum esforço, dependendo das habilidades e dos talentos de cada um.
Deus desistiu. Entregou as pontos.Logo Ele que não era disso. Resolveu que tinha errado, e que em Sua magnificência deveria repor de alguma maneira aquele homem tão injustiçado:
-Pois me peça qualquer coisa que eu te dou!
- Qualquer coisa dentre todas que existem!?
-Qualquer uma.
- Então, eu quero ser Deus. Eu reúno todas qualidades necessárias para Isso.

sábado, 27 de junho de 2009

é que talvez, mas só talvez...

É cada coisa,
Cada momento maluco,
Cada sentimento exasperado
Guardado a sete chaves
Esperando a sua hora certa...
É cada grito bobo,
São tantas promessas que não deviam ser feitas,
E as ameaças, então...
É cada coisa que no momento seguinte torna-se nada,
Mas ameaças, momentos, promessas,
Sentimentos exasperados
Têm uma caixa funda, mas muito bem guardada,
Na memória morta de cada um de nós.
Todo mundo podia ser feliz
Se a felicidade de um não dependesse de outro.
O melhor na vida talvez, afinal, não seja viver.
Por isso calei meu tom de voz alto
E me resignei aos motivos maiores:
Eu não quero mais ser feliz,
Eu só quero viver em paz.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

lá de baixo.

Eu sou um prédio de cento e quarenta e três andares
Que se acostumou a ver a cidade de cima,
Aprendeu a observar, a entender simplesmente
Sou um prédio ainda em vida,
Sou pedra sobre pedra sobre pedra,
Sou um caco.
Sou poeta, e no mais sou apenas eu
Sem pedras no caminho, ou pedras sobre pedras.
Apenas sonho,
Apenas quero,
No mais, sou sorte sobre nada.
E não quero nada, não sonho nada
E nem sonharei.
Eu sou um prédio de cento e quarenta e três andares.
Mas sou térreo,
Sou estático, sem movimentos
Olhando de cima, mas só pra dentro de mim
Olhando de cima, e abaixo de todos.