segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Filosofia Barata

- Filosofia barata essa sua, ela me disse.

E eu não acho que isso é coisa que se diga! Bota o nome da mãe, xinga até a décima primeira geração, mas não sai chamando qualquer coisa que eu pensar de filosofia barata. Falar que fiquei nervoso é bobagem, na verdade fiquei tão, mas tão puto, que esqueci até o que tinha dito.

Fiquei parado olhando pra ela, assim como quem não quer nada. Puxei um cigarro do maço e acendi, traguei, baforei, e soltei um risinho cheio da ironia mais fina. Não pensei em nada inteligente na hora, não achei nada demais pra responder, mas ri, e aquele riso, modéstia à parte, foi genial.

Só que ela riu, e eu continuei rindo porque ela riu. Mas, pensem bem, a moça chama minha filosofia de barata, me deixa possesso, e aí, quando eu acho uma tirada boa, uma tirada própria de gênios, ela usa da mesma comigo! Vaca.

Mas tudo tem um fundo de verdade, e como aquele risinho genial tivesse realmente um quê de gênio, é provável que minha filosofia tivesse seu momento barata. Corri o céu com os olhos, pensando em alguma coisa que me defendesse, mas não me ocorreu nada.

Pensei em falar de Deus, sobre como o protestantismo se perdeu e, por se perder, cresceu. Pensei em falar sobre essa nova literatura pop que pega coisas que já existiam há séculos e transformam, ‘Jesus deixou herdeiros!’, ‘um vampiro meio bicha, que brilha no sol, e é completamente bom’. E me controlei a tempo ao abrir a boca, antes que soltasse um ‘Está quente hoje, não é?’

E como sempre pensei, pensei, e não falei nada.

Mas ela também estava pensando e não estava falando, e eu matutava que ela devia estar pensando a maneira mais educada de me pedir desculpas. Devia estar confessando a si mesma que minha filosofia era boa, que barato foi o jeito dela de pensar no que eu pensei. E ela diria ‘desculpa, meu filósofo’, eu pagaria um café, e iríamos pra cama.

E aí, depois da certeza do arrependimento dela, pensei que ela estava com vergonha de se desculpar e, na minha magnificência, abri um sorriso daqueles superiores, autorizando a menina às desculpas.

E foi abrir o sorriso e ela escancarou a gargalhada! Ria de não se agüentar em pé da minha cara, do meu conceito, da merda toda! Aquilo já era demais, humilhação demais. Segurei-a pelos braços, e com os olhos vermelhos gritei:

-Filosofia barata é a puta que te pariu!.

Ela me olhou admirada e teve que se render à força do meu argumento.