sábado, 24 de outubro de 2009

Qual!

- Eu te amo.

Não foi a primeira vez que ela me disse isso, e nem a primeira vez que eu escutei algo do tipo. Rezei para os anjos bons e maus que fosse a última. Qual!

Ela alisou os próprios cabelos, e estava alguns quilômetros longe de mim. Tive a sensação de que não deveria ter visto essa cena, não poderia me interpor assim na privacidade alheia, mas ela riu, riu e mexeu no próprio cabelo quando disse que me amava, disso tenho certeza.

E aí eu quis saber porque ela riu, e perguntei a Deus, mas dessa vez ninguém me disse e nem mostrou nada. Eu fiquei vazio, sozinho, morto de vontades, e quis que alguém me consolasse. Pensei numa puta, ou num bar. Escolhi o bar, pra não correr riscos de me apaixonar e escutar tamanha barbaridade de novo.

Mas aí resolveram falar alguma coisa comigo, e foi no fundo dum copo de cachaça que eu a vi se arrumando pra dormir, rezando um Pai Nosso, com Deus logo acima de acima de seu corpo. Ele ria mais do que ela, eu, ou qualquer outra/outro, já tinha rido na face da Terra. E Ele me disse Olha lá, olha lá, tá rezando pra Mim, a boca reza como se fosse pra Mim, mas tá pensando em você! E riu, e riu, e riu. E eu perguntei pra Ele porque ele não escolhia outro pra fazer lá das Suas artes, e ele me respondeu que Ora, é óbvio, você é um artista! E sumiu, me largou no fundo do copo, vendo ela fingir que rezava enquanto pensava em mim.

E como se nada disso tivesse acontecido, e o inimaginável e improvável fossem apenas realidade, eu voltei a mim sentado no bar, bebi a cachaça num gole, e tive certeza que ela escutava meus pensamentos. Ahh, quanta certeza ela teria que eu sou louco! Meus pensamentos são uma cova funda, baby! Não entra, não... Não entra, não. Não entra, não! Qual! Entrou. E aí eu entendi porque ela pensava em mim antes de dormir, e na verdade, era eu que pensava nela, e ela vendo, ouvindo, sentindo o frio, o fundo, e o negro dos meus pensamentos, pensava em mim também. Louca, ela! Doidinha da Silva!

E como ela pensasse em mim, e estivesse dentro dos meus pensamentos, sabia que era só questão de querer pra eu entrar na cabeça dela também, e assim, cachaça subindo à cabeça, e cabeça descendo ao copo, vi que ela devia ter sentido uma leve tontura antes de dormir, mas saí de lá antes que eu visse mais alguma coisa que eu não quisesse ver, porque o pensamento das outras pessoas deve ser cheio dessas imagens.

E lá estava eu! Sentado no copo, com ela sentada do meu lado, e ela disse Cara, Você é muito maluco! Muito mesmo! Eu vi isso tudo!, eu queria ter ficado calado, mas preferi dizer que ela tinha visto, mas não tinha entendido nada. Qual! Eu já estava cansado de saber que entende quem vê, e quem vê e entende não entendeu patativas! E ela disse Patativas!? Achava que essa palavra não existia mais..., e eu pensei Que merda! Que merda! Ela dentro dos meus pensamentos, ela sabe que entendeu, agora tudo, tudo, tudo se perdeu e pronto! Merda!, me desanimei, deitei no fundo do copo pra sentir um pouco do cheiro da cachaça, e me embriagar do seu perfume, tudo já estava perdido, eu não sabia o que pensava, e menos ainda no que pensar, quando ela me disse:

- Eu também te amo!

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